Campanha da Fraternidade 2014: Um grande grito pela dignidade humana

Com toda responsabilidade social a Igreja Católica neste presente ano convida a sociedade para refletir sobre um dos maiores flagelos da humanidade, uma grande ferida social que merece, com toda certeza, mais atenção de todos nós, trata-se do tráfico humano.

Uma vergonha que, infelizmente, permanece desde os tempos do imperialismo, onde na formação das colônias, principalmente nos continentes africanos e americanos, nossos povos foram subjugados para satisfazer os desejos insaciáveis das metrópoles.
Sabemos que o Brasil foi um dos últimos países a promover a abolição da escravatura, fato que só ocorreu graças a grande pressão internacional, mais devemos aqui fazer uma reflexão sobre a maldita colônia de exploração que fomos submetidos, pois foi esta herança que comprometeu nossa capacidade de crescimento e não fomos explorados apenas economicamente, no primeiro momento nossos irmãos indígenas foram vítimas da crueldade dos colonizadores e mulheres mulheres e crianças foram violentados covardemente pelos colonizadores de todas as formas imagináveis.
Entretanto, devemos aqui destacar a resistência desses povos que não aceitaram a condição de escravos e fizeram com que os colonizadores buscassem alternativa do tráfico negreiro, que naquele momento da história mostrava ao mundo que a metrópole não se contentava com tamanha exploração do continente africano, deveria, até para salvar a lucratividade dos seus negócios, promover o tráfico de pessoas para serem exploradas, pois o tráfico seria muito lucrativo nesta oportunidade, daí a resistência do Brasil para não dar alforria aos seus escravos.

Diante deste relato infelizmente temos a oportunidade de detectar que a exploração do homem pelo homem é secular, é presente em todos os países do mundo, uma situação que faz muitas famílias padecerem, se angustiarem e terem na grande maioria das vezes a imposição do silêncio pelas malditas organizações criminosas. São essas situações que dificultam o combate ao tráfico humano, pois as vítimas são de famílias de maior vulnerabilidade social, que são aliciadas pela ilusão de ganharem prosperidade no exterior, de obterem bons salários e quando chegam ao destino às mulheres, principalmente, são obrigadas a se prostituírem, trabalharem em condições insalubres e se submeterem a todas as vontades da organização e em muitos casos as vítimas são mortas pelo tráfico de órgãos, outra grande vergonha omitida pela sociedade mundial.

No Brasil há mais de 240 rotas do tráfico humano segundo a Polícia Federal, embora saibamos que aproximadamente 80% destas rotas estão no norte do Brasil, devemos nos manter alerta, pois Mato Grosso do Sul pode ser uma alternativa para este tipo de crime, onde Bolívia e Paraguai podem servir de conexão para se chegar a Europa. É necessária total percepção para este grande mal que não está distante de nenhum de nós, pelo contrário é presente, merece ser discutida em todos os segmentos sociais e a igreja, principalmente pelo seu dever ético, chama esta responsabilidade para provocar a discussão que esta temática exige.

Devemos fazer com que o momento da Quaresma que é tempo de reflexão e conversão cumpra sua finalidade social, não devemos enquanto cristãos se utilizar da fuga, nos omitindo diante dos desafios, precisamos de forma autêntica nos encorajar para o enfrentamento desta grande mazela, caso contrário, homens, mulheres e crianças continuarão se tornando presas fáceis a voracidade extrema do sistema capitalista. Que esta reflexão possa contribuir e que estejamos alertas a esta cruel ameaça as nossas famílias.