O Grito dos Excluídos
O que é?
O Grito dos Excluídos é uma manifestação popular que surgiu a partir do desejo das Pastorais Sociais de trabalharem cada vez mais articuladas, a fim de atuar mais eficazmente diante da situação de exclusão social crescente no Brasil. Esta preocupação foi levantada após a Segunda Semana Social Brasileira, em 1994. O evento soma-se à Romaria dos Trabalhadores, que já vinha acontecendo em Aparecida-SP desde 1987. Articulado com a ação pastoral da Igreja no Brasil, ele retoma e aprofunda o tema da Campanha da Fraternidade, realizada anualmente durante a Quaresma.
Quando acontece?
Esta manifestação acontece no dia 07 de setembro, dia da Pátria, quando o Brasil comemora oficialmente sua independência de Portugal. A data tem razão de ser porque as pastorais sociais e os movimentos populares, em geral, entendem que o Brasil ainda não é uma país independente, no verdadeiro sentido da palavra. Independência para nós significa trabalho para todos, educação e saúde de qualidade, moradia, alimentação, acesso aos bens culturais. O País só será independente quando todos os cidadãos tiverem os direitos respeitados e as suas necessidades básicas atendidas.
Histórico
O primeiro Grito dos Excluídos, realizado em 1995, teve como lema “A Vida em Primeiro Lugar.” Aconteceu em cerca de 180 cidades. Realizado de forma descentralizada, suscitou boa participação e muita criatividade. Foi expressão da voz dos excluídos, criou laços de solidariedade e fortaleceu a esperança. Além disto, denunciou a concentração da terra e da renda, a política que gera o desemprego, a corrupção e a política neoliberal. Entre outras coisas, reivindicava a democratização da propriedade e do uso da terra, a distribuição da riqueza, da renda e um projeto de sociedade construído com ampla participação popular.
O segundo Grito dos Excluídos foi realizado no dia 07 de setembro de 1996, em mais de 300 cidades. Em Aparecida- SP, juntamente com a Romaria dos Trabalhadores, reuniu mais de 80 mil pessoas. Tendo como lema “Trabalho e Terra Para Viver”, quis ser um ato de fé no Deus da Vida, um grito profético por justiça e paz, denúncia contra o desemprego estrutural, além de buscar saídas para a situação de exclusão social e criar laços de solidariedade e fortalecer a luta e a esperança. Denunciou o processo de globalização que agravava a concentração, a posição das elites que vêem o desemprego estrutural como um “mal necessário”, o sacrifício de vidas humanas para salvar planos econômicos, a falta de uma política agrícola e a degradação do meio-ambiente.
O Grito dos Excluídos de 1997, com o lema “Queremos Justiça e Dignidade”, vai denunciar os abusos do sistema carcerário, a violência policial e o poder Judiciário, e ainda clamar contra a injustiça, pelos direitos dos presos, pela reforma agrária, pela demarcação das terras indígenas e contra o modelo de desenvolvimento econômico que gera desemprego.
É importante destacar, neste processo, a ampliação das parcerias. Se os Gritos de 95 e 96 foram coordenados somente pelas pastorais sociais em colaboração com outras entidades, o de 1997 deu um passo importante para consolidar as parcerias. Além das dez pastorais sociais e dos três organismos que compõem o Setor Pastoral Social da CNBB, fazem parte da coordenação nacional o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a Central Única dos Trabalhadores e a Central dos Movimentos Populares. Nas diferentes regiões e municípios as parcerias se diversificaram ainda mais, articulando várias Igrejas cristãs, organizações não governamentais, movimentos sindicais e populares significativos.
Rumo ao Novo Milênio
A Igreja Católica assumiu este projeto por ocasião da 34ª Assembléia Nacional dos Bispos do Brasil, em maio de 1996. A Assembléia foi marcada pela aprovação de um grande programa de evangelização para preparar a comemoração do Jubileu do ano 2000. No “Projeto Rumo ao Novo Milênio”, podemos ler: “O ‘Grito dos Excluídos’ será celebrado anualmente, em nível nacional, no dia 7 de setembro, retomando preferencialmente o tema da Campanha da Fraternidade “ (PRNM nº 129). Desta forma, ele não é mais apenas um projeto das Pastorais Sociais e dos parceiros da sociedade civil que foram se somando ao longo do processo, mas tornou-se também um projeto oficial da CNBB.
O Grito dos Excluídos soma-se e quer dar visibilidade à 3ª Semana Social Brasileira, cujo tema é: “Resgate das Dívidas Sociais: justiça e dignidade na construção de uma sociedade democrática.” Por sua vez, a 3ªSSB quer ser um valioso instrumento para a celebração do Jubileu do ano 2000, que se inspira na Bíblia e na “Tertio Millennio Adveniente”. Tanto a Bíblia como a Carta Apostólica apontam para o perdão das dívidas, a devolução das terras e a libertação dos escravos. João Paulo II, em particular, refere-se à dívida externa no parágrafo 51: “... os cristãos deverão fazer-se voz de todos os pobres do mundo, propondo o Jubileu como um tempo oportuno para pensar, além do mais, numa consistente redução, se não mesmo no perdão da dívida internacional, que pesa sobre o destino de muitas nações.”
Caráter social do Jubileu
A celebração do Jubileu do ano 2000 parece ser uma boa oportunidade para promover um grande esforço no sentido de realizar o desígnio inicial de Deus: um mundo onde todos possamos viver como irmãos.
A América Latina tem um substrato cultural cristão que perpassa todos os nossos países. Neste sentido, há condições favoráveis para que o Jubileu tenha de fato um caráter social e não apenas festivo e celebrativo. É nesta direção que colocamos a proposta que segue. Trata-se de uma proposta aberta, em elaboração, e que quer contar com a contribuição de todos em sua construção.
Proposta:
Realizar, em l999, uma grande manifestação popular, um Grito Latinoamericano e mundial em favor do resgate das dívidas sociais, lutando pelo cancelamento da dívida externa como forma de celebrar o Jubileu de Jesus Cristo com um compromisso social e transformador.
Como datas comuns, sugerimos a escolha entre:
- 12 de outubro: ‘Descoberta’ da América
- 10 de dezembro: Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos
- 12 de dezembro: Nossa Senhora de Guadalupe - Padroeira da AL.
- Páscoa: libertação da terra da escravidão e ressurreição dos martirizados
Proposta encaminhada pela Coordenação do Grito dos Excluídos (Pastorais Sociais da CNBB, em parceria com a Central dos Movimentos Populares, Movimento Sem Terra e Central Única dos Trabalhadores).
Secretaria Geral: Rua Caiambé, 126
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