Integração Regional em Medelín - Economia Solidária

Composta por um Conselho Diretivo Regional, que agrega nove redes, a Rede Intercontinental de Promoção da Economia Social e Solidária para América Latina e Caribe (RIPESS-LAC) já incorporou em sua agenda de participação, a presença obrigatória nas Feiras Solidárias de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Neste ano não foi diferente, e a RIPESS garantiu sua participação na 17ª Feira do Cooperativismo, para discutir a pauta da Economia Solidária (ES).
Durante o evento, Andréa Mendes, representante do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) na RIPEES, falou à ADITAL, sobre o desenvolvimento desta economia na América Latina e a necessidade de integração entre os países. Ela também disse que o Brasil é um modelo e referência na área.

ADITAL - Como a RIPESS avalia a atual situação da Economia Solidária na América Latina?
Andréa Mendes - A partir de um olhar de algumas organizações, há algum tempo, e nos encontros do Fórum Social Mundial, principalmente, identificou-se a existência da Economia Solidária em diversos países, ou ao menos algumas ações que se aproximavam deste tipo de atividade. Então, começou a se pensar em uma instituição em nível de América Latina e Caribe, e a gente tem uma discussão dentro da RIPESS-LAC muito no âmbito de fazer um levantamento, num primeiro momento, e discutir participação de redes e organizações. Eu posso dizer que no momento atual existe uma discussão muito em nível de incidência política e de reconhecimento das redes. Tanto é que em Medelín (na Colômbia), vai acontecer uma discussão do regulamento, participantes, aderentes, e de como vai se delinear a atuação da RIPESS na América Latina.

ADITAL - A Feira de Santa Maria chega a servir de exemplo para outras regiões?
Andréa Mendes - Em geral, o Brasil é uma referência em Economia Solidária na América Latina, tanto em nível de atuação de movimento, quanto nas políticas públicas, e com certeza, a Feira de Santa Maria é uma referência. A gente colocou na agenda da RIPEES das discussões de integração internacional, a presença em Santa Maria. A gente fez uma discussão no início do ano, e construímos algumas idéias em torno dessa perspectiva de integração que vamos aprofundar agora em Medelín.
ADITAL - A integração também é vista como prioridade pela RIPPES?
Andréa Mendes - A idéia da RIPEES é integrar a rede, então existe essa iniciativa de discutir integração política, regional e internacional. O que acontece é que algumas iniciativas dependem muito da sociedade, e a gente não tem tido muitos espaços pra debater e aprofundar, e depois realizar ações que dêem a noção mais internacional, pelo menos isso é o meu ponto de vista. Mas, já existem algumas reuniões que foram realizadas, e eu acredito que a que teve uma força maior aconteceu em Lima (Peru), em 2007, onde as redes que participam da RIPESS saíram dali com algum plano de ação já delineado.
Inclusive o Fórum Brasileiro participou dessa ação. Agora, o que acontece? Depois disso, não houve ações enquanto RIPESS. As redes executaram ações dentro dos seus países. E agora eu creio que neste encontro de Medelín nós poderemos discutir o que aconteceu durante este período e, realmente, somar uma caminhada como RIPEES América Latina e Caribe.

ADITAL - Dentro da América Latina, quais são os países que mais tem desenvolvida a ES?
Andréa Mendes - A gente tem experiências no México, muito próximas de Economia Solidária; no Chile, no Peru, na Bolívia, no Panamá, são experiências, e também tem muito a questão do comércio justo, que é também uma bandeira de luta dentro da RIPESS. Mas, na maioria dos países, existe o trabalho da Economia Solidária.
ADITAL - Muitos empreendimentos apontam a comercialização como o grande desafio da ES. Isso é comum em toda a América Latina?
Andréa Mendes - É comum. Existe uma discussão, não enquanto RIPESS, mas, espaço Mercosul Solidário, que agrega países como Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Equador, que eles entendem que a gente precisa atuar com questões mais práticas e dar respostas a esses desafios que são fundamentais para os empreendimentos. A comercialização é apontada em todos esses países e já existem alguns projetos sendo construídos em nível de Mercosul, como o Projeto de implantação de Bases de Comercialização nas Fronteiras, Projetos de Tendas de Feiras em regiões de fronteiras também, em regiões estratégicas.
ADITAL - Como está sendo o apoio dos governos ao movimento da Economia Solidária?
Andréa Mendes - Existe um apoio dos governos na instância de Mercosul. Existe um espaço somente de governo onde se discutem ações para a integração regional. Mas esses projetos, por exemplo, das Bases de Comercialização em regiões de Fronteiras, foi uma orientação do Conselho do Mercosul dentro do Brasil e a Senaes (Secretaria Nacional de ES) incorporou essa proposta, então, está apresentando um projeto, que pretende implantar quinze pontos de comercialização nas regiões de fronteira, envolvendo o Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Então, está iniciando um apoio do governo na perspectiva internacional de integração para as questões de Economia Solidária. É claro que existe um desafio por que existem vários entendimentos dentro desse espaço do Mercosul e aí é que entra a atuação dos movimentos sociais, de estar pautando, dentro desses espaços, a questão da Economia Solidária.
ADITAL - Como está a agenda da RIPESS? O próximo encontro é o de Medelín?
Andréa Mendes - O "4º Encontro Latino-americano de Comércio Justo e Economia Solidária" é agora de 21 a 24 de julho, e está sendo puxado pela RIPESS. A idéia é ter a participação de diversas redes da América Latina e Caribe para discutir temáticas como: Comércio Justo, Consumo Ético, Finanças Solidárias, Políticas Públicas. E é um momento de que algumas experiências relevantes estejam presentes para, inclusive, influenciar as políticas locais. A gente tem na Colômbia uma necessidade muito grande de desenvolvimento da Economia Solidária e para eles é um momento ímpar, o Brasil levar suas experiências das políticas públicas, das finanças solidárias, à parte que eles têm uma experiência vasta no comércio justo. Pra gente vai ser importante participar.

* Jornalista da Adital
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